2) Meu pai já é falecido. Eu sei que esse é um momento estranho no texto, pensei em colocar em primeiro lugar, mas pareceria que estou escrevendo sobre alguma tristeza da minha vida, ou sei lá, esse não é o objetivo. Eu só quero evitar constrangimentos do tipo eu comentar que vou no cemitério e a pessoa fazer uma cara horrorizada, pensando que eu participo de algum ritual satânico que sacrifica adolescentes. Não, eu só levo flores todos os meses para ele, muito comovente, eu sei.
3) Minha mãe não parece ser quem ela realmente é. Só eu conheço a minha mãe, mais ninguém. Ela faz o tipo Emily Gilmore: é um doce na tua frente, educada a ponto de te ofender sem usar palavras que pareçam com ofensa, não te deixando reagir e te humilhando do pior jeito possível. Um exemplo é perguntando o que aquele teu antigo casinho estuda como se não quisesse nada e depois da resposta comenta: "Diferente... Por que ele não fez algo que dê mais dinheiro?". Ela é preconceituosa, maldosa e manipuladora. Eu só sofro com a última característica. Não fiquem apavorados, ela não é um monstro, parece uma personagem, como se fosse uma anti-herói de uma história cheia de valores morais e sociais. No fundo ela tem todos eles, só não os aplica por motivos de sobrevivência.
4) Tenho poucos amigos. Amizade para mim é: respeito e admiração em reciprocidade que, logo, se transformam em amor fraternal. Eu respeito a todos, eu admiro poucos. Não me venha com puxa-saquismo que eu posso te chamar de amigo da boca pra fora e não ser sequer teu colega.
5) Minha vida amorosa não é um caos. É um tédio. Sonhadora demais, intensa demais, dramática demais, ou seja, estive com pouquíssimas pessoas na minha vida e levei grandes tombos. Sou cuidadosa ou medrosa, ainda não sei qual chapéu serve.
6) Meus princípios me prejudicam. Não roubo, não minto, não copio trabalho da internet. Só Deus sabe como eu já me prejudiquei em seguí-los. Principalmente a parte do não mentir, eu não sei mentir e culpo meu pai por isso. A rígida educação militar, limitou o meu cérebro a obedecer, não mentir, não roubar, não copiar trabalhos. Sei pilotar um avião, mas não sei sobreviver no mundo urbano.
7) Não sei o que quero da vida. Uma hora sou uma grande fã do Direito, outra da Psicologia. Carreira promissora, concurso público ou casamento, marido e filhos. Jogar na Mega-sena ou na Quina. Estudar ou não fazer nada. Ler ou ouvir música. Trabalhar ou não trabalhar. Sair com os amigos ou ficar em casa morrendo de tédio. Isso caracteriza indecisão e quando alguém toma alguma por mim, fico brava e não quero efetivá-la. Eu mereço um lugar no limbo.
8) Sou extremamente carente. Isso desencadeia milhares de problemas: chatice crônica, timidez, insegurança, apego, ciúmes e outros caracteres que não me vem em mente, mas sem duvida afastam qualquer gato malhado que sanaria essa carência.
9) Preguiça é meu middle name. Garfield não é páreo pra mim. Tenho preguiça de: caminhar, estudar, ver um filme, ir na cozinha buscar água, trabalhar, conversar, pensar, dormir, etc. Só os faço na tentativa de criar algum costume.
10) As pessoas me acham um anjo e eu sou. Já perdoei mais que qualquer padre falando em nome de Deus, tenho mais paciência que uma parede, sou mais querida que qualquer pessoa e consigo segurar todos os defeitos do item 8 pra não incomodar alguém. Só vou parar no limbo pela mina indecisão e pela preguiça, que é um pecado capital.